Capítulo 65

O airbag diminuiu o impacto maior, sem maiores acidentes.

—O que você acha que está fazendo? Quer nos matar?

—Eu vi alguma coisa, na estrada. Era algum bicho e eu desviei.

Eu sai do carro.

—Droga! Bruna! Vem cá. Aí caralho.

—O que foi? - Dei a volta no carro. A porta do Luan estava aberta, mas não entendi o que estava acontecendo.

—Minha perna. Eu tô preso nas ferragens.

—Meu Deus! Você não sente dor?

—Eu deveria mas não.

—Vou ligar para a emergência.

Demorou exatos 15 minutos. Foi preciso esperar pelos bombeiros, o nervosismo do Luan só aumentava.

Havia um dos ferros segurando a perna dele, quando eles removeram os primeiros ferros aí que veio a dor. Luan gritou de dor.

Eu estava nervosa, precisava comunicar alguém sobre o acidente ou descobririam pela internet.

Em poucos minutos fomos levados para o hospital. Luan foi atendido e eu fiquei na sala de espera. Liguei para o meu pai e eles vieram. A notícia se espalhou na internet muito rápido, mas ninguém sabia de fato o que tinha acontecido. Na maioria das postagens era falando que ele havia bebido e pegado o carro, dando risco a própria vida e a minha.

As mensagens chegavam e eu tentava tranqüilizar nossos amigos, mesmo eu estando em estado de choque.

Já passava das duas na madrugada quando o médico nos chamou e disse que ele não tinha risco nenhum, ele só precisaria ficar em observação naquela noite, as ferragens não chegaram a romper nenhuma artéria ou atingindo nenhum osso, apenas levou alguns pontos e estava medicado por conta da dor, o que resultou dele estar sedado. O médico explicou também que a falta da dor era da adrenalina que fez com que ele não percebesse o quanto doía, quando passou a adrenalina as dores se tornaram presentes.

Meu pai insistiu que eu e minha mãe fôssemos para casa descansar pois ele ficaria ali até que o Wellington chegasse.

[...]

Luan

—É sério gente, não precisava deu ficar aqui.

—Precisava sim. Não dá para você fazer as coisas sem ajuda, você mal consegue ficar três segundos em pé sozinho. - Bruna me ajudava a sentar junto com o Rober.

—Eu me viro.

—Ah claro. - Bruna deu um sorriso irônico.

—Vai ficar de molho boi!

Roberval fez meu tereré e me entregou. Minha mãe me bajulava demais, e depois do… vocês sabem. Ela me trata como se eu fosse um objeto de cristal que se alguém encostasse eu poderia cair e me quebrar - mais do que eu já estava. - Meus amigos vieram me visitar, não queria muita babação mas não me adiantou nada. No dia seguinte do acidente fiz um vídeo explicando o que acontecia. Paulo me instruiu o que dizer.

—Será que não dá para ir nos shows não? É um saco ficar sem fazer nada.

—Você tá de repouso não pode andar!

—Eu faço o show sentado, tem problema não.

—Mas seu filho é teimoso dona Marizete! - Rober resmungou.

—Cala a boca testudo. Eu quero trabalhar. Ficar aqui não dá.

—Um mês só Pi. Depois cê volta.

—É muito tempo.

Eles ainda ficaram enchendo meu saco até que eu fingi dormir.

—Ele anda muito estressado ultimamente. - minha mãe lamentou.

—Deve ser o DVD que tá para sair. - Bruna falou.

—Não é isso, eu conheço meu filho. É sobre a Victória e a Pietra, ele não superou isso.

—Mais pela Pietra. - Rober disse.

—Eles se gostaram né?

—Foi mais além do que gostar, eu nunca tinha visto o Luan protegendo uma garota tanto quanto ele protegia, não lembro dele ter se preocupado com o bem estar de uma garota que ele tenha ficado, ele deixava de beber com os amigos para ficar com a Pietra, ela mudou bastante ele e tenho certeza que ele mudou pra pior com a partida dela.

—Eu queria tanto que a Pietra estivesse aqui. Meu filho merece ser feliz. Dois anos que eu não vejo a felicidade dele estampada no rosto.

—Agora ele só pensa em encher a cara e mulheres para curar o vazio que a Pietra deixou.

Bruna disse com raiva.

—Ele não procura uma ajuda né?

—Ele gritou com o pai quando ele decidiu que ele precisava conversar com um psicólogo. Não reconheço mais meu filho.

E entre essas conversas, eu adormeci de verdade, o nó que se formou na minha garganta, dois anos atrás se manteve mais presente agora pela preocupação dos meus pais e amigos.

[...]

—Terminou, Pi?

—Me ajuda a pôr a calça, tá um pouco apertada por conta do curativo.

—Não tem mais larga?

—Quero vestir essa.

Ela concordou e me ajudou a colocar a minha calça, o machucado ainda estava presente mas eu suportava ficar em pé por alguns minutos, sem contar que hoje é aniversário dos meninos e eu tô louco de saudade.

Coloquei o coturno com a ajuda da minha irmã e descemos, me despedi dos meus pais e Bruna foi dirigindo.

Já tinha bastante gente no interior do salão, dava para ouvir as vozes e gritos de crianças, o estacionamento estava quase lotado, Bruna achou uma vaga e então fomos, Dudu e Érica estavam recebendo os convidados, falei com os dois e entreguei os presentes, Bruna fez o mesmo e perguntou se eu ficaria bem sozinho, eu disse que sim.

O salão era tão grande quanto o do ano passado mas não demorei para achar os meus meninos, sim eles eram meus também. Desde a perda do meu filho, eu os adotei de coração, Dudu na noite do parto da Érica disse que se um dia eles faltassem na vida dos meninos que eu cuidaria deles, me senti honrado pela confiança que ele tinha comigo. Os meninos me receberam com um coletivo me chamando de tio. Dei beijos neles e desejei muitas coisas boas. Eles não me deram nem atenção, queriam voltar para os brinquedos que chamavam mais atenção deles.

Tomando remédio para controlar a dor, não podia tomar nenhum tipo de álcool, fiquei naquela vontade a festa toda. Conversei com algumas pessoas, fiquei numa mesa entre alguns famosos, comi salgadinhos e bebi refrigerante.

Érica apareceu de repente, ela me chamou avisando que os padrinhos tinham que tirar fotos com nos afilhados. Demorei para chegar até a mesa repleta de doces e um bolo no centro tão grande que eu poderia esconder um dos meninos e ninguém o veria.

—Bruna e Breno vão primeiro.

Érica arrumou os meninos no meio do casal e a foto foi tirada pelo fotógrafo da festa.

—Agora vai Luan e a Pietra! - Olhei para a Érica espantado com o que ela disse. Ela tá aqui? - Pensei. Olhei pra trás e lá estava ela, logo atrás de mim. Meu coração não me obedeceu e acelerou pela presença dela. Droga.

—Vamos Luan. Antes que os meninos metem a mão no bolo e estraga a festa! - Dudu me deu um leve empurrão. —Respira, cara..

—Não dá. São dois anos longe dela e ela me aparece mais linda? Puta que pariu.

Pietra não me olhou nos olhos e ficou brincando com os meninos para fingir que estava ocupada demais para me dá um oi.

—Digam x! - O fotógrafo tirou as fotos. João saiu do meu colo reclamando que queria brincar. Pedro vendo a esperteza do irmão fez a mesma coisa, nesse momento a Pietra não teve jeito e me olhou nos olhos.

—Oi.

—Tá tudo bem?

—Ta sim. - Ela balançou a cabeça várias vezes. —Você é que se meteu em um acidente né? - apontou para a minha perna, como se soube qual perna era.

—É, vi um bicho na estrada e desviei.

—Que bom que não foi nada grave.

—É…

Tirei o cabelo da testa percebendo que estava suando mais que o normal, olhei a minha volta e estava nossos amigos todos nos olhando com aquela cara de esperança.

—É… Tchau, foi bom te ver.

—Pra mim tbm! - Eu dei o sorriso mais idiota do mundo.

“O mundo precisa dar voltas para eu te achar de novo”