Luan
Depois da briga, eu tentei apaziguar a situação. Não queria dormir sem ela naquela cama enorme. Não queria e nem conseguiria aquela cama cheira a ela, aquele perfume que só ela usava. E era difícil conseguir pegar no sono sentindo o cheiro dela mas não sentindo ela abraçada a mim.
Não sei quanto tempo depois mas a porta foi escancarada, eu pulei da cama rápido, vendo Pietra praticamente berrar.
—O que está acontecendo? - Me aproximei dela.
—Eu não sei, to sentindo algo estranho. Preciso ir ao hospital.
—Pra ganhar já??? - Falei surpreso mas caiu a ficha. —Você só está de cinco meses.
—Eu não acho que é pra ganhar, mas to sentindo algo estranho, mas to com medo do que pode ser. - Ela falava agoniada, enquanto esfregava a mão na barriga.
—Então vamos! Rápido.
—Vou trocar de roupa. - Ela correu para o closet e saiu com uma calça de moletom e uma blusa fina de frio. Peguei os documentos dela e os meus, peguei as chaves e descemos.
O caminho todo era a Pietra falando que a culpa era minha, de ter passado nervoso para ela. E eu aguentei calado por saber que isso era verdade, eu poderia ter diminuído aquela briga logo quando ela se voltou para mim.
Assim que eu parei na porta, ela saiu e o enfermeiro colocou ela numa cadeira de rodas, corri para a vaga mais próxima que tinha e sai rápido para encontrar Pietra.
Fiz a ficha dela e soube que eu não estava autorizado a entrar por ordens da paciente vulgo minha esposa.
—Luan? - Uma enfermeira se aproximou depois de quase uma hora esperando.
—Eu mesmo, sabe me dizer se a minha esposa já foi atendida?
—Já foi atendida sim. Mas a medica que atendeu ela quer falar com você. - Segui a enfermeira que me levou até uma sala, pediu que eu esperasse e eu não vi outra escolha.
Uma mulher logo entrou.
—É o marido da Pietra Castro né?
—Sim doutora. O que ela tem? Por favor me diz que não é nada grave.
—Não é nada de grave, pode ficar tranquilo. Mas ela chegou aqui muito nervosa, eu queria saber o que aconteceu para deixar ela assim. Ela recebeu alguma notícia ruim?
Eu suspirei pesadamente antes de falar.
—Hoje o dia foi bom, mas quando fomos deitar a gente brigou, uma discussão boba mas ela se alterou com as respostas que eu dei. Não foi a minha intenção passar nervoso a ela, ainda mais ela grávida, foi um sacrifício dela engravidar.
—Não importa se não foi a sua intenção. O que importa agora é que ela não pode se estressar em momento nenhum. Essas brigas podem ser bobas mas na cabeça e no corpo dela é como se fossem uma agressão. Pense bem antes de dar uma resposta.
—Farei isso, doutora.
—Ela está em observação por uma hora, vá dar uma volta, esfriar a cabeça, pensar no que vai dizer. Tenho certeza que ela vai precisar de você.
—Mas o bebê está bem?
—Sua filha está sim. Ela ficou agitada com o nervosismo da Pietra é só isso que ela sentiu, a bebê se movimentando.
—É menina? - Eu só consegui processar aquilo.
—Você não sabia? Oh me desculpe. Eu não, não sabia.
—Não, tudo bem. Vocês conseguiram ver pela ultrassonografia?
—Sim. Tivemos que fazer para ver se estava tudo bem com o bebê.
—Certo. - Suspirei mais aliviado. —Uma menininha! - Falei emocionado.
Sai dali e fui esperar, mas minha ansiedade não me deixava esperar por mais uma hora, queria ver Pietra e comemorar o nossa princesa e fazer ela esquecer a aquela briga idiota.
Quando finalmente passou a uma hora em que Pietra estava em observação, fui decidido, minha entrada já tinha sido liberada, Pietra estava deitada, com uma respiração serena, um semblante calmo, ela não estava dormindo, apenas descansando os olhos.
Me aproximei com cautela e afaguei seus cabelos, ela abriu os olhos me encarando.
—Melhorou? - Ela assentiu.
Ajudei ela se levantar, estava com a mesma roupa que veio e então saímos com a alta que a medica deu, depois de certificar-se que Pietra estava melhor.
A volta para casa foi em completo silêncio, ninguém ousou ligar o rádio para descontrair o clima tenso que estava.
Enquanto estacionava o carro, Pietra entrou para casa e eu terminei de fechar a casa toda enquanto entrava.
Quando cheguei no quarto, me deu um alívio saber que ela estava lá na nossa cama, deitada toda enrolada no edredom.
Tirei minha roupa, ficando de cueca. Apaguei as luzes deixando do abajur ligada. Me deitei e desliguei a única luz que iluminava.
Fiquei com receio dela me rejeitar se eu me aproximasse dela para abraçá-la. Mas ela veio para o abrigo dela, meu abraço, se acomodou envolvendo meu pescoço e minha cintura.
—É uma menina. - Ela contou e eu apertei seu corpo mais ao meu. Ela não sabia que a médica acabou me contando e eu fingi surpresa porque eu ainda estava surpreso.
—Que bom meu amor. Desculpa eu por ter que descobrir o sexo da nossa filha num momento tão estressante para você.
—Tudo bem. - Ela suspirou se aconchegando mais a mim, logo eu senti seu corpo relaxar, num sono profundo.
Tentei sentir os movimentos da nossa filha, mas sem que Pietra acordasse. Mas parecia que nossa pequena estava dormindo também, desisti e acabei dormindo também.
No dia seguinte eu acordei quando Pietra estava no banho, decidi acordar um pouco mais cedo e aproveitar meu dia com minha esposa.
Quando ela saiu, percebi que ela não tinha os mesmo plano que eu, estava arrumada e não percebeu que eu estava acordada.
—Bom dia. Vai sair? - Levantei da cama.
—Ah. Oi bom dia. Vou no Eduardo, preciso conversar com ele.
—Cedo assim? Ele tá em casa dormindo.
—Vocês artistas acham que ganham tanto dinheiro que pode dormir até a hora que bem quer. - Decidi ignorar aquele comentario dela e fui para o banheiro, tomei um banho e sai para me vestir.
Desci depois de arrumado, Pietra já estava na cozinha conversando com a empregada. Dei bom dia e me servi de café.
—Vai ainda no Eduardo? - Puxei assunto, já que ela estava arrumada ainda.
—Vou mais tarde, agora eu vou fazer compras para a nossa filha.
—Compras? Eu quero participar também.
—Já liguei para a Erica, ela vai.
—Poxa, amor. Esse era um momento nosso. Eu queria participar.
—Mas eu não sei a loja, Erica que vai me levar.
—Mesmo assim. Eu queria participar.
—Outra dia você vai. Escolhemos a mobília do quarto dela e você estará participando. - Ela se levantou decidida. Ouvi uma buzina na rua e deduzi que fosse Erica. —É a Erica, tchau. Chego antes de você viajar. - Ela me deu um beijo rápido e saiu rebolando.
Fiquei a manhã toda sentado no sofá esperando o tempo passar, o sono não voltou para que eu fosse dormir de novo e eu estava ansioso querendo está no lugar de Erica, fazendo as compras para a minha filha.
Falando em filha. Liguei para a casa dos meus pais, contei a eles que era uma menina, eles vibraram com a notícia, nos chamaram até para almoçar lá. Mas não podia aceitar já que Pietra não estava em casa.
Pietra chegou na hora do almoço, chegou cheia de sacolas e pediu minha ajuda, pois ainda tinha no carro da Erica. Ajudei-a com as inúmeras sacolas de loja de bebês.
Deixamos tudo na sala, Erica almoçou aqui, fiquei apenas ouvindo o que elas conversavam, falava de tudo e de todos e riam bem animadas.
—O almoço estava ótimo! - Erica se despedia de Pietra. —Boa viagem, Luan.
—Obrigado, Caca. - Sorri fechado. Pietra a levou até o carro e ela foi embora.
—Fizeram muitas compras né? - Puxei assunto.
—É, mas a maioria eu ganhei. Logo me reconheceram por eu ser a esposa do Luan Santana. - Ela se sentou no sofá próxima as sacolas.
—Ah sim.
—Vão mandar mais, me pediram o endereço e vão mandando as coisas aos poucos.
—Legal.
—Olha essas coisinhas, são lindas. - Ela esticou a mão segurando uma sacola rosa claro e eu a peguei, abrindo-a. Dentro da sacola tinha uma camiseta delicada, escrito “Sou do papai” em inglês, aquilo mexeu comigo, me deixou emocionado, ela sabia que me deixaria naquele estado e fez de proposito. Enxuguei as lágrimas e encarei Pietra.
—É linda. - Minha lagrima me desobedeceu e desceu do meu rosto.
—E tem essa aqui também. - Me mostrou um macacãozinho do corinthians, fiquei louco é claro. Queria já ver nossa bonequinha vestindo o meu timão, fazer ela gostar do que eu gosto.
—Agora não dá pra mostrar tudo. Tem muita coisa e precisamos se arrumar para viajar.
—Você vai? - Perguntei surpreso.
—Vou. - Ela se levantou, ajudei levando as sacolas para o nosso quarto e deixamos as coisas no closet, com a promessa de arrumar logo o quarto da nossa boneca.