Pietra
Acordei pela décima vez nessa cama de hospital. Eu detesto hospitais, detesto ter que ser mantida dentro de um quarto.
Na décima quinta vez que eu acordei, tinha uma enfermeira no quarto.
—Bom dia. São que horas?
—Oito e meia. Vim avisar que o doutor Carlos Emanuel vem passar aqui às nove.
—Obrigada.
Levantei-me e fui tomar banho, pedi que Bruna passasse no apartamento de Yan e pegasse algumas roupas para eu vestir. Mas que ela viesse só quando pudesse.
Troquei o roupão de hospital e me sentei na cama, havia um café da manhã muito ruim, comida de hospitais sem gosto algum, como conseguem comer isso e sair bem daqui?
Peguei meu celular e não tinha nenhuma mensagem não lida ou ligação não atendida. Aqui não pegava sinal.
Um homem de jaleco branco entrou pedindo licença e logo pegou o formulário.
—Pietra Castro. Você já se decidiu?
—Eu decidi não fazer a cirurgia.
Ele estufou o peito e revirou os olhos.
—A enfermeira te disse quais os riscos de você não resistir e ainda perder o feto.
—Eu tenho fé que o meu bebê vai resistir. Eu consegui levar essa gravidez até agora e vou conseguir levar o resto.
—Você não está entendendo, Pietra. Seu bebê está crescendo rápido demais, você teve sorte de ter descoberto essa gravidez ectópica antes da sua trompa se romper. Você ainda é nova e vai engravidar quando quiser.
—Eu não quero engravidar de novo, o pai do meu bebê vai cuidar dele se eu não estiver aqui para cuidar.
—Você não vai estar.
—Tudo bem. Meu bebê ainda tem muito para aprender. Eu já aprendi tudo que eu tinha que aprender.
—A questão não é aprender o que a vida te oferece. Você não está capacitada para tomar decisões da sua vida. Cadê seu parceiro que eu ainda não vi ele?
—Eu não tenho parceiro.
—O pai da criança.
—Ele não pode tomar essa decisão.
—Ele pode sim. Ele também é pai.
E então o homem de jaleco saiu. Eu bufei de raiva.
A minha decisão estava clara. Meu bebê ficaria com Luan, minha vida havia acabado no momento em que ele me deixou para ficar com a minha irmã, a qual ele sempre traiu e jurava me amar. O diagnóstico foi rápido quando o enfermeiro me avaliou, gritei, chamei um médico e apareceu o Doutor Rodrigo. Ele chamou mais dois obstetras que avaliaram a minha gravidez deixando claro que eu não poderia passar mais tempo com o “feto” nem o chamaram de bebê, isso doeu em mim mais que tudo. O meu bebê vai ser muito bem cuidado por Luan, seus avós, Marizete, Amarildo e Paulo. Tenho absoluta certeza que todos vão amar meu bebê. Embora eu não poderia está para ver o desenvolvimento dele, tão pouco ver o rostinho dele.
A noite chorei vendo o quão injusto estava sendo o meu destino, sem amor, as amizades se afastando, mãe me odiando e uma gravidez de risco, risco era pouco, o que eu tinha mesmo era que retirar o “feto” e tentar seguir em frente. Parecia tão fácil mas que eu via o destino sempre me pregando uma prova para ver se eu aguentava a pressão da vida. Mas que eu estava esgotada de todos esses obstáculos.
—Piiiie.
Bruna estava na minha frente estalando os dedos.
—Oi.
—Tá tudo bem?
—Ta. - Me sentei na cama. —Trouxe o que eu te pedi?
—Sim. Aqui.
Ela me entregou a mochila, entrei no banheiro e me vesti. Nunca me senti tão bem em vestir calcinha e sutiã.
—Eu vim aqui só para entregar as suas coisas e eu tenho que voltar. Me desculpa tá?
—Tudo bem. A minha vida que parou a sua contínua.
—Não fala assim. Você sabe que só você pode tomar essa decisão.
—Você não falou com o Luan não né? O médico hoje veio com o papo de que o pai da criança pode tomar as decisões por mim.
—Não contei. Você pediu mas ele insistiu que eu desse o endereço daqui e eu dei.
—Bruna!
—Ele estava preocupado. Talvez ele passe aqui.
—Não quero ver ele. Pode por o nome dele na lista de sem visitas?
—Você quer fazer isso mesmo?
—Quero.
Ela então foi. O dia passou-se lentamente, a comida do hospital era terrível, eu ficaria doente se continuasse ali.
Estava difícil ficar ali e as enfermeiras me olharem com raiva, acho que queriam que eu morresse rápido. No final da tarde duas enfermeiras mais novas passaram cochichando em frente a minha porta, pelo que eu percebi era alguém famoso. Meu cérebro logo detectou alguém que eu conhecia tanto. Luan!
—Pietra.
Era ele.
Luan
Fiquei cerca de uma hora tentando entender a gravidade que a Pietra estava se metendo sem ao menos ela perceber.
O médico que fez o diagnóstico conversou comigo e explicou o que estava acontecendo, expliquei que Pietra estava passando por uma fase difícil de lidar mas que eu faria qualquer coisa para que ela mudasse a opinião dela.
Um enfermeiro me indicou o quarto e Wellington ficou do lado de fora para que ninguém nos interrompesse, não queria que ninguém descobrisse que eu estava ali. Todos desconfiavam que eu estivesse no outro hospital com a Victória que eu soube que estava passando por uma cirurgia difícil naquela manhã.
Assim que eu entrei Pietra logo me localizou com seu olhar fundo. Dava para ver o quanto ela estava sofrendo com tudo aquilo.
—O que você veio fazer aqui? Eu pedi para a Bruna riscar seu nome da lista de visitantes.
—Não adiantaria. Eu vim conversar com o seu médico sobre você.
Eu me sentei na ponta da cama dela.
—Você não tinha nada pra fazer aqui.
—Tenho sim. Tenho um filho com você.
—Se você veio aqui é para falar que eu tenho que abortar ele. Matar! Então tecnicamente não tem filho nenhum.
—Deixa a teimosia de lado, Pietra. Você já foi avisada que não tem chances de vida se o bebê vir a nascer. Você não tem estruturas, o bebê está num lugar que não poderia estar. O médico te explicou isso né?
—Ele já explicou tudo o que você está me faltando, eu pensei e decidi. Você quer ser pai dessa criança? Pois bem, estou te falando que você é o pai, quando ele nascer e ele não me ter, você tem a guarda dele, você vai ser o pai dele, vai cuidar como a sua mãe cuidou de você.
Eu levantei perturbado com aquilo.
—O que você acha que está fazendo? Uma criança precisa da mãe. Precisa de um lado materno, precisa de você. Eu não vou cuidar sozinho, você não tem como escolher por mim, nem por você. Eu sei que dói perder uma criança, que nenhum outro vai substituir esse mas você tem uma vida pela frente, pode ter outros. Podemos fazer outro.
Pietra abaixou a cabeça negando cada palavra minha.
—Não podemos ter mais filhos, Luan. Filhos só vem se tem amor. Eu amei. Você amou. Mas isso acabou. Teve um fim. Minha vida está chegando ao ponto final para ter o começo do nosso filho, fruto do nosso amor. Não vamos ter outro filho por falta de amor entre nós.
—Eu nunca deixei de amar você, sempre cuidei de você, mesmo de longe. Você que me escondeu a minha responsabilidade de pai.
—Você deixou de me amar quando voltou para a Victória. Ela sim foi o amor da sua vida, ela sabe que você está aqui? Implorando pela minha vida?
—Não vamos falar da Victória agora. Eu quero saber de você, você está entre a vida e a morte.
—Estou ciente que vou morrer, pelo meu filho, pelo o amor que demos fruto. Você só pensa em você, só pensa nos seus sentimentos, você vai ter alguém para te chamar de pai, já pensou nisso? Mas é claro que já pensou, você pensou no filho da Victória né? O filho dela merece a vida mas o meu não?
—Não fala isso, Pietra. Não quero entrar numa discussão.
—Já estamos discutindo.
Eu respirei fundo me sentando no sofá.
—Deixa eu te falar uma coisa.
—Fala.
—Ontem aconteceu uma coisa muito séria. Aconteceu um acidente, enfim. Você não deve está sabendo.
—Acidente? Com quem?
Vi a preocupação no olhar dela.
—Uma pessoa que foi próxima a mim. Seu pai é quem está tomando as providências disso tudo. A vida do seu pai virou de cabeça para baixo num só dia.
—Quem foi? - Ela derramou algumas lágrimas nervosas, seu rosto vermelho chegava a dar dó.
—Eu fui na sua casa ontem chamar seu pai para vir comigo ver você, ele ainda não sabe nada sobre você aqui internada. No momento em que eu fui falar, aconteceu um acidente. Victória e Douglas estavam no carro, eles saíam e um caminhão bateu em cheio a porta do carona, cujo banco em que a Victória estava. No hospital ontem, seu pai me disse que era para eu ir atrás da minha felicidade, eu já sabia onde estava a minha felicidade mas não sabia que tinha que abrir mão de alguém, um alguém que eu nem conhecia. Me desculpa a indelicadeza mas eu não vou viver sem você, não vou. Não vou saber cuidar de uma criança que veio de você, que se parece com você. Eu vou chorar toda vez que eu olhar pro bebê. Se isso for como um castigo por tudo que eu te fiz sofrer, me desculpa de coração. Eu me afasto de você, consigo um emprego novo para você, um melhor para viver melhor do que você vem vivendo. Eu só quero paz para você, quero que você consiga um amor e que você supere tudo o que passamos, sei que vai doer em mim e em você mas se for para vivermos sem um matar o outro eu prefiro que seja do seu jeito. Mas não me deixa com uma criança que vai se parecer com você e castigar todos os dias da minha vida quando eu for olhar para essa criança.
Eu puxei o ar que me faltava, me deixando mais assustado por não conseguir respirar direito minhas narinas estavam entupidas de tanto chorar. Pietra não estava atrás, estava vermelha, estava vendo a hora dela explodir de tanto chorar.Só posto depois de 10 comentários.
O que será que vai acontecer? Hmmm
Pq tudo isso tem que acontecer com a Pie?
ResponderExcluirEla tem que conseguir ser feliz , tomar a decisao ela e o Luan e seguirem em frente e mostrar que milagre acontece..
Meu coraçãoo , não demora a voltar ... Maria Clata ❤
Ai meu Deus, sofri.
ResponderExcluirPq ela tinha q sofrer 😢 e ele tbem 😢 mas acho q a Pie vai aboetar o bb, já pensou se a Victória não se recupera? Vai ser mto sofrimento
ResponderExcluirAi ai Luanzinho, eles não mereciam lassar por maiz essa. E bem que a Victória podia morrer né?! Continua que ta boa demais a fic
ResponderExcluirAnem a pietra pode morrer não e nem o bb :-( bem que eles poderiam ficar sabendo de um tratamento fora que pode salva os dois
ResponderExcluirNAAAAAOO. ela não pode morrer 😭😭. Eles tem q ficar juntos. Eles já sofreram demais
ResponderExcluirAi gente, que capítulo triste😭😭
ResponderExcluirEla não pode morrer!😔
Eles tem que ficar juntos, sofreram tanto. Merecem ser felizes!
Ela não pode morrer!😭
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