Luan
—Quando vamos falar sobre o casamento? - Entrei no quarto após escovar os dentes, vendo Pietra dobrar minhas roupas na mala.
Dois dias depois que ela teve que voltar para o Rio de janeiro ela veio fazer uma surpresinha para mim, aqui no Paraná.
—Quando tivermos tempo. Tempos tempo agora?
—Temos. O show de hoje começa mais tarde.
—Ok. O que vamos falar do casamento?
—Quero filhos. - Falei com seriedade mas acabei rindo. —To brincando, mas eu quero mesmo filhos. Bom eu estava pensando nos convidados primeiro… - Olhei em seus olhos.
—Ok. Pode ser. Vai ser simples a cerimônia né? - Sustentou o meu olhar.
—Eu estava pensando em algo grande, não é todo dia que vamos casar e não foi atoa que eu me matei para o pedido do casamento. - Coloquei minha ideia.
—Eu não queria algo grande, cheio de convidados que eu só conheço por nome ou porque vi em algum evento profissional. Queria só a família, amigos próximos.
—Eu tenho amigos no ramo da música, Pietra. Tenho grandes amigos.
—Eu sei. Mas não precisamos dele.
—Já vi que vai ser uma dor de cabeça. - Resmunguei e Pietra revirou os olhos.
—Vamos pular a parte dos convidados? Onde vamos casar?
—Na igreja.
—Eu prefiro em uma fazenda, ar puro, céu claro, cheiro de flores.
—Não é melhor numa igreja? Acho mais religioso.
—Somos religiosos, Luan. Mas queria diferente. Gosto da diferença.
Suspirei incomodado.
—Vamos ter uma festa né?
—Sim! - Ela disse animada.
—Ok! Pelo menos nisso a gente concorda.
Ela revirou os olhos outra vez.
—Quer fazer a lista de presentes?
—Não. Eu confio em você fazendo essa lista. Não vejo faltando nada para ganhar presentes. - Dei risada descontraído.
Era verdade. Tudo que eu precisava ou queria eu comprava com o meu dinheiro e depois do casamento não seria diferente.
—Ok.
—A propósito, queria marcar a data da escolha da nossa casa.
—Não está satisfeito com a minha casa?
—Como você falou, é a sua casa e não minha. - Remexi incomodado.
—Deixa se ser ridículo. A casa é sua, você que não se sente dono de lá.
—Porque não podemos comprar uma juntos? Ter divisão se tudo depois do casamento?
—Ah falando nisso, se um dia caso nos separarmos, que Deus não permita isso. Não vamos dividir nada, cada um vai ficar com o que o que conquistou e seguir seus caminhos.
—Para Pietra. Nosso casamento vai ser dividido parcialmente, não mudo por nada. - Bati o pé, ela ficou encarando a mala que estava diante dela. —Não precisamos discutir sobre isso agora. Temos tempo.
—Ok. Como você quer um casamento digno de muitos convidados eu vou querer um vestido digno. Então isso vai me fazer correr para uma estilista, de preferência bem conhecida. - Seu sorriso cresceu.
—Antes de casar e já está me falindo. - Resmunguei para que ela pudesse ouvir, mas ela sabia que era brincadeira. —Você que manda, patroa.
—Ótimo! - Ela sorriu.
—Não tem uma pessoa que os casais contratam para cuidar dessas coisas chatas do casamento?
—Tem mas estou me adiantando logo, quando contratamos a empresa já temos alguma ideia.
—Certo. Quando vai contratar?
—Pra semana. Ainda não imagino a data para o casório, você já pensou nisso?
—Janeiro, pode ser?
—Depois das festas pra me ver gorda no vestido né? - Fez cara de brava e eu ri.
—Projeto fitness amor. - Dei um sorriso debochado.
—Quero comer muito no natal!
—Você já come o peru o ano inteiro. - Ela corou violentamente, estava com saudade daquele rostinho vermelho envergonhado.
—Você com suas piadinhas sem graça.
Dei risada, ficamos falando sobre o casamento, estava ansioso para acontecer o tão sonhado dia que minha noiva viraria minha esposa.
Me peguei pensando, como as coisas começaram a dar certo na minha vida pessoal. Como Pietra entrou na minha vida como um balde de água gelado e ao mesmo tempo quente para me proteger.
Quando deu a hora, fui me arrumar. Tomei banho e sai vestindo apenas uma cueca. Pietra estava no telefone e parecia preocupada. Deixei que ela encerrasse a ligação para perguntar. Enquanto não acontecia eu me vestia.
—Quem era? - Perguntei quando ela encerrou a ligação.
—A sua mãe. Ela disse que a bolsa da Bruna estourou.
—E Bruna? Como que ela tá?
—Está bem. Já está com o Breno na sala fazendo o parto.
—Queria está lá. - Resmunguei.
—Na sala vendo o parto? - Pietra deu risada descontraída.
—Não. - Eu ri. —Queria está lá para ver minhas sobrinhas. - Sorri de lado.
—Você ainda vai ter tempo de ver suas sobrinhas, bobo. —Ela sorriu.
—Eu sei… eu tô surpreso por ter sido tio, achei que eu fosse ser pai primeiro. - Dei risada.
—Você escolheu essa decisão.
—Pietra… Eu escolhi você porque eu te amo. - Segurei em sua mão a puxando para mim. —Escolhi na intenção de fazer mais outros filhos. E estamos aqui, tendo mais uma chance para fazer do jeito certo. —Afundei meu rosto em seu pescoço, permitindo-me fechar meus olhos com força
—Você ia ser pai de uma menina… - Ela falou e eu levantei meu rosto encarando seus olhos longe.
—Uma menina? Como você?
—Sim. Uma menina, você ia cuidar dela.
—Pietra… por que você me fala uma coisa dessas? Eu sinto muito por eu não ter aceitado a sua escolha mas eu estou melhor assim. O que eu ia dizer pra essa menina, nossa filha que eu escolhi ela entre você e ela?
—Ia dizer que a gente se amou muito, o bastante para que ela fosse existir. Para ela dar valor a tudo que ela tinha e amar muito o pai dela. - Abracei forte minha noiva, aquelas palavras e a lembrança daquele dia vieram todas para minha cabeça me culpando, eu poderia ser um bom pai, não sei se o melhor por conta do meu luto eterno se Pietra fosse morrer mas eu tentaria agradar minha filha a todo custo. Com esse pensamento, senti-me mais culpado, eu não teria Pietra como eu tenho hoje.
—Nossos filhos vão saber que nos amamos muito, vai dar valor a tudo que fizemos por eles, e vão saber que a gente já ama antes de existir. - Beijei sua bochecha e escorreguei minha boca até encontrar a sua. Um beijo de urgência foi iniciado, suas lábios quentes e totalmente entregues aos meus, sua língua entrava em contato com a minha de forma dançante e carinhosa. Encerramos o beijo com selinhos.
—Eu amo você. - Eu precisava falar aquilo.
—Eu amo você. - Ela me beijou e me abraçou.
Fiquei acariciando seus cabelos enquanto ela se acalmava, seu corpo tenso identificava que o assunto era delicado para ela.
Fiz o show meio tarde, por ser um festival com alguns artistas, meu show era o penúltimo da grade de artistas naquela noite. Pietra ficou quietinha do lado do palco, quando eu ia para aquele lado eu fazia questão de segurar sua cintura e lhe dar um beijo delicioso e voltava ao centro do palco para cantar.
Quando terminou o show fomos direto para o aeroporto, eu queria descansar o mais rápido possível, Pietra dormia lindamente em meu ombro, completamente relaxada. Era umas quatro e meia quando entramos no avião, ela se sentou de frente para mim colocando suas pernas sobre as minhas, me obrigando a massagear seus pés.
Chegamos duas horas depois em São Paulo. Subimos logo para o quarto dela, não pensamos nem nas malas que ficaram na sala, deitamos e dormimos.
Pela tarde eu acordei, Pietra já não estava mais na cama. Levantei indo pro banheiro e tomei um banho rápido, me vesti e saí a procura da minha noiva.
Mal desci as escadas e encontrei Pietra lendo uma revista sentada no sofá, me sentei ao lado dela.
—Boa tarde, amorzinho. - Beijei seu rosto já que ela não se deu o trabalho de me olhar para eu poder beijar sua boca.
—Boa tarde, vai almoçar. - Ela disse, folheando a revista.
—Tá.
Levantei resmungando, pela falta de atenção com o futuro marido dela. Preparei meu prato e coloquei suco no meu copo e comi sozinho.
Ao terminar eu lavei a pequena louça que eu sujei, os cachorros estavam lá, os filhotes estavam grandes, lindos. Haviam apenas três, os outros foram dados para quem quisesse cuidar.
Brinquei com eles um pouco, dava para ver a alegria deles com a minha presença. Imaginei logo eles na nossa casa nova, com nossas crianças, escutando as risadas dos nossos filhos enquanto os cachorros brincavam de correr em volta.
—Tá fazendo o que ai? - Ouvi a voz da Pietra e virei-me, encontrando ela com os braços cruzados me encarando.
—Brincando. - Falei o óbvio.
—Eu vi. - Ela revirou os olhos. - Dei de ombro voltando a jogar a bolinha para que um deles pegasse.
—Sua mãe ligou, disse que era pra você ir na casa dela. - Virei de novo e vi ela se sentando na escadinha que dava ao quintal.
—Ok. - Suspirei, tinha alguma coisa de errada com a Pietra, ela estava seca comigo.
Coloquei os cachorros para dentro e voltei onde Pietra continuava sentada.
—Aconteceu alguma coisa?
—Você sabe o que você fez.
—Não sei. Me conta. - Falei tranquilo.
—Você brigou com a minha mãe, Luan.
—Ah é isso.
—É isso sim! Ela me contou que deixou ela chorando.
—Não deixei ela chorando. Eu só fui embora.
—Tudo bem não gostar da minha mãe mas ofender ela é demais. Ela não sai nem do quarto quando você está aqui.
—Eu não ofendi. Eu disse já estava na hora dela ver você como Pietra, é isso o que você devia fazer mas aceita ela te chamando pela sua irmã morta! - Falei me alterando, levantei-me ciente que não aguentaria mais falar sobre isso.
—Você não tem esse direito. Ela é a minha mãe.
—Tá bom Pietra, eu estava te ajudando.
—Mas só piorou. - Seus olhos denunciavam que ela ia chorar e eu não queria ver isso.
—Eu vou embora.
Vishh clima meio tenso para o casal hein 🙈