Pietra
Duas semanas em Dubai foram maravilhosas para mim e para Luan. Mas já voltava para a nossa rotina. Luan viajando para o mundo, sim, mundo. Seus shows estava cada vez mais longe de mim. Mas eu torcia para o seu sucesso internacional.
—Você vai comigo? - Ele saiu do banheiro de toalha enrolada na cintura e uma outra na cabeça, secando seu cabelo.
—Não vai dar, tenho consulta com a minha médica. - Torci a boca.
—Não pode remarcar? Eu queria ir também.
—Eu não quero adiar as consultas, gosto de saber tudo logo e estou ansiosa.
—Para que? - Ele se sentou do meu lado.
—Por mais que eu saiba que esteja tudo bem comigo, não sinto dores, me sinto muito bem. Eu sou preocupada, quero saber cada passo que minha gravidez. E não é remarcando que vou ficar tranquila.
—Eu sei que ficar sem saber é ruim, eu também estou ansioso pra saber, mas eu queria ir para saber também.
—Mas eu vou te dar notícias, assim que sair eu vou te ligar e te dizer como foi.
—Eu não vou faltar essa consulta, se você não remarcar eu vou dar um jeito de vir para casa e depois voltar.
—Deixa de ser teimoso, homem. Você tem que descansar.
—Não consigo descansar quando minha mulher vai a uma consulta sem mim.
—Já fui em um monte sem você, para de graça. Eu vou ficar bem.
—Eu sei que vai ficar bem mas eu queria ir.
—Da próxima eu marco direitinho. Num dia que você poderá comparecer.
—Tudo bem. - Ele resmungou e se levantou indo para o closet.
Suspirei aliviada por ele ter mudado de ideia.
Me deitei um pouco, vendo as nossas inúmeras fotos no meu celular, gostei de uma e postei colocando uma legenda legal.
—Que tal irmos na casa da sua mãe? - Ele sugeriu se sentando na ponta da cama.
—Hoje não, estou cansada.
—Não está com saudades dela? - Ele me olhou atento mas não conseguia dizer o que eu estava sentindo em relação a minha mãe.
—Estou um pouco. - Menti.
—Você não ligou para ela a viagem inteira. Achei que íamos do aeroporto direto pra casa dela.
—Não é pra tanto. - Resmunguei.—Não? - Ele se virou, endireitando a postura. —O que aconteceu no dia do nosso casamento? Eu percebi que ela ficou de fora de tudo que aconteceu, até mesmo do casamento.
—Não quero falar disso. Estou melhor assim.
—Ah não, eu adiei bastante essa conversa, não questionei sobre o que eu percebi que era algo delicado, eu te conheço, mas não vou esperar mais.
Eu fiquei quieta, não queria falar sobre aquilo, era humilhante demais.
Não sei o que aconteceu comigo mas minhas lágrimas rolaram pelo meu rosto, tentei despistar Luan antes que ele visse minha fraqueza mas foi tarde demais. Ele me acolheu nos braços dele, repetindo que aquilo iria passar. Mas era óbvio que passou, passou por cima de mim arrancando meu coração, arrancando todo o carinho que eu sentia por minha mãe.
—Me conta, você vai se sentir bem.
—Eu. Eu não consigo. Minha mãe me magoou muito. - Me afastei secando as lágrimas. —Nem no dia do meu casamento ela me viu como Pietra. Ela está doente e eu deixei que ela ficasse mais doente ainda. Não vi o que estava na minha frente.
—Amor, respira. Do que você está falando? Ela parece está bem.
—Não, ela não está bem. Precisa de tratamentos. - Engoli minha dor e comecei a falar. —hoje eu me sinto na vida da minha mãe como uma pedra em seu caminho, e foi isso o que aconteceu, desde que eu estava na barriga dela. Acredita? - Luan me olhava surpreso. Acho que tinha medo de questionar mais alguma coisa e se surpreender. —Ela nunca teve amor a mim, para ela só existia Victória como filha. Sempre foi assim, mesmo as duas do lado dela.
—Amor… - Ele passou a mão do meu braço me dando apoio.
—Deixa eu falar. Por favor. - Ele assentiu. —Ela pensou em me abortar mesmo com os médicos dizendo que eu tinha mais chances de viver dentro dela, ela preferiu a Victória. Ela teve complicações na gestação e Victoria não recebia o que precisava, mas eu recebia e continuava crescendo muito bem. Os médicos alertam ela de tirar a Victoria, ela não quis, quis me tirar e deixar com que Victoria pudesse sobreviver. - Luan me olhava mais horrorizado ainda, a história não foi só para mim um susto.
—Como você soube disso? - Ele tentava achar palavras para tudo aquilo.
—Ela me contou, dizendo que eu era uma vitória na minha vida, que eu venci todas as barreiras que a vida tentou me passar. Desde mesmo no nascimento. Eu não aguentei aquilo calada, tive que falar que eu não era quem ela pensava ser. Que eu venci por méritos meus. Ela me humilhou, Luan. Não desejo que nenhum filho ouça uma coisa dessas de uma mãe. Eu pensei em me matar no dia do nosso casamento para não carregar as falhas da minha mãe comigo.
—Que isso, amor? Não fala uma coisa dessas? Onde já se viu? Ia me deixar? E o nosso filho? Eu ia perder vocês dois, o que eu seria sem vocês? Moreninha, nunca mais pense em tirar a própria vida, eu morreria se você fizesse uma coisa dessas. Eu me culparia até não ter mais ar para respirar. - Seus olhos escuros, tão intenso me mostrava o medo dele me perder. Ao menos alguém me ama.
—Eu lutei contra esse pensamento, -Abracei ele com força —lutei porque eu não pensava mais em mim, eu pensei na nossa família. - El retribuiu o abraço com a mesma intensidade. Eu tenho certeza que achei a pessoa certa para viver o resto da minha vida e até o que restar dela nessa terra.
Ele não desgrudou de mim, e como sempre fazia, sentava perto de mim, colocava a cabeça perto da minha barriga e falava com o nosso filho, dizia o quanto estava ansioso para ver a minha barriga grandona, aquilo me assustava um pouco, lembro que quando engravidei, eu com apenas seis meses já carregava barriga volumosa, incapaz se ser escondida com por qualquer roupa.
—Bora fazer um acordo? - Ele perguntou me pegando de surpresa.
—Que acordo? - Estranhei.
—Se for menino eu escolho o nome, se for menina você escolhe o nome.
—É um acordo bom. - Sorri.
—Beleza, já vou pensar em alguns nomes e depois a gente junta tudo.
—Pode ser que eu saiba o sexo do bebê nessa consulta.
Seus olhos perdidos e ao mesmo tempo esperançoso me olharam.
—Ah Pietra. Eu já quero ir nessa consulta e você me diz uma coisa dessas? Eu vou contigo pronto, acabou.
—Para menino. - Eu ri da sua birra. —Eu posso optar por não saber nessa consulta e esperar uma nova. - Ele se acalmou um pouco mais.
—Promete?
—Prometo. - Selei seus lábios.
—A gente tem que descobrir juntos e nós nem escolhemos os nomes.
—Ainda temos 27 semanas para escolher o nome. - Fiz carinho em sua barba.
—Tudo isso? - Ele ficou surpreso, falando do jeito que eu falei parecia uma eternidade mesmo e a realidade era mesmo assim, uma eternidade para o nosso fruto poder está em nossos braços nos enchendo de alegria.
—Tudo isso. - Dei risada.
Nossa conversa girava em torno de mim e do nosso bebê, da chegada dele em nossa vida e da alegria que ele nos dava. Dava para ver a alegria do meu marido ao ver ele falando do nosso bebê, que já era rodeado por amor.
[...]
A partida do Luan foi difícil, já estava acostumada com ele quase 24 horas por dia do meu lado e saber que ia ficar uma semana longe doía o coração.
Fiz minha consulta como planejava, naquela manhã Luan estava acordado esperando que eu ligasse para saber da consulta, marquei mais exames novos, ela me receitou uma nova receita e por fim tirei dúvidas (eu como curiosa) queria saber de tudo e já planejava como seria o parto. Minha médica era excelente e me encorajou a ter o meu bebê dentro da minha casa com tudo que eu tinha direito e ainda explicou que as chances eram mínimas de ter alguma complicação, o que me incentivou mais. Nada que o nosso lar para me sentir mais à vontade na hora de receber meu bebê.
—E aí como foi a consulta? - Eu dirigia enquanto ouvia a voz do Luan pelo viva voz do celular.
—Foi muito esclarecedor. - Fui breve.
—Como assim?
—Ela me pediu muito repouso. - Suspirei. —Ela pediu que ficássemos sem sexo durante gravidez inteira. - Mordi o lábio, segurando a louca vontade de rir.
—Sem sexo? - Sua voz era de surpresa.
—Sim.
—Fizemos algo de errado? Eu te machuquei? Machuquei o nosso filho? - A voz desesperada dele me partia o coração.
—Não nos machucou, ela só disse que era para repousar e que isso incluía principalmente o sexo.
—Amor, quer dizer que fizemos algo de errado, ela não ia proibir assim. - Ele tinha caído direitinho da minha brincadeira.
—Daí eu não sei, ela só me disse isso. Eu fiquei com vergonha de perguntar o porquê. - Globo deveria me contratar, eu deveria ter filmado essa trollagem, ele ia ficar puto comigo mas era pra zoar um pouco ele.
—Certo. Na próxima consulta eu pergunto por você. Já marcou?
—Ainda não, eu disse a ela que ia falar com você para poder ir comigo.
—Beleza então, se cuida direitinho, come na hora certa, nada de besteiras.
—Pode deixar, papai. - Sorri de lado. —Beijo Rafinha, te amo. - Antes de encerrar a chamada eu ouvi um risinho dele.
Dirigi até a casa do meu pai, estava com saudades dele. Assim que ele abriu a porta o sorriso dele abriu também, me atacou com seus braços longos me apertando em seu peito.
—Que saudade da minha filhota. - Ele beijou meu rosto.
—Também estava morrendo de saudades.
—Entra minha filha. Daniela está preparando o almoço, venha.
Ele não me deixou negar, me conhecia tão bem que sabia quando eu queria e estava sendo educada. Me serviu bastante comida, acho que se ele soubesse que eu estava grávida ia me servir dois pratos daquele.
—Pai, está o suficiente. - implorei mais uma vez.
—Seu pai é muito preocupado com você. - Dani disse sorrindo. Comecei a ver que seu jeito comigo era de carinho e não de poder como eu via antes.
—Ele é paranóico. - Demos risada.
—Achamos que tinha viajado com o Luan.
—Ah eu tinha um consulta que não podia adiar. Queria que vocês soubessem logo, estou grávida. - Meu pai que mastigava a comida sorrindo se engasgou, Daniela teve que ampara-lo batendo em suas costas. Quando ele parou de engasgar ele bebeu um pouco do suco. Me olhando com os olhos marejados.
—Grávida? Eu achei que fosse demorar. - Ele abriu um sorriso grande. —Luan já sabe?
—Já sabe. Ele está muito babão, quase pegou o avião ontem de madrugada para me acompanhar na consulta. - Demos risada.
Meu pai se levantou e veio me abraçar, me falou coisas bonitas que me fizeram chorar, eu estava bastante sensível com essa gravidez. E não podia ouvir alguém dizendo que me amava que meus olhos já se enchia de lágrimas.
Daniela me desejou coisas ótimas me deixando sem palavras pelo bom coração que ela tinha.
O almoço foi repleto de perguntas sobre como estava o desenvolvimento do meu bebê e eu disse tudo com maior sorriso no rosto. E meu pai gostou muito da notícia e Dani também gostou.
Depois do almoço agradável eu fui para casa. Tive que passar na casa da minha mãe, como eu tinha a chave eu não precisei me anunciar. entrei dentro da casa e peguei meus cachorros e tudo que eram deles, fui um custo colocar todos dentro do carro e isso chamou atenção da minha mãe.
—Minha filha. Quanto tempo. - Ela abriu os braços para me abraçar mas eu recusei.
—Não estou com tempo. - Falei seca pegando mais um cachorro.
—Eu ainda quero falar com você sobre aquela conversa.
—Não tenho mais o que falar. - Passei por ela mas ela segurou meu braço.
—Mas eu tenho e você precisa me ouvir.