Luan
Peguei a rua que dava ao portão grande do condomínio, e acelerei até passar pela cancela. Ia acelerar o carro mas Douglas apareceu, quanta ousadia da parte dele aparecer no meu condomínio assim.
—O que você está fazendo aqui? - Perguntei antes que ele falasse algo.
—Estou te procurando, Luan. Eu realmente preciso falar com você.
—Pois fala então, estou com pressa.
—Tem algum lugar para conversarmos?
—Cara não tenho nada para falar com você e…
—Mas eu tenho, po cara vamos a um bar, beber um pouco, conversar, eu preciso me desculpar com você.
—Outro dia. - Tentei fugir dessa conversa.
—Outro dia não. Por favor cara.
Suspirei sem ter mais nenhuma desculpa em mente.
—Entra ai no carro então. - Ele deu a volta rápido, abriu a porta e se sentou.
—Obrigado por me escutar. - Ele agradeceu depois que eu dei a partida.
—Não agradeça a mim. Agradeça a Pietra que me encheu. A propósito, não procure minha esposa para se resolver comigo, ela não tem nada a ver com o que você fez.
—Eu sei cara. Mas você não me ouviria logo de cara se eu não falasse com ela. Tenho que agradecer a ela também. - Ele falou sorrindo.
—Não precisa agradecer a ela, eu aviso que você está agradecido! - Tirei seu sorriso do rosto.
—Luan, não sei porque essa implicância toda cara, você nunca gostou da Victoria…
—Por incrível que pareça eu gostava dela sim, mas não como eu gosto da Pietra. Foi um momento de curtição. E não era porque ela e eu vivíamos na galinhagem que você poderia me colocar chifres.
—Isso tudo é por conta do machismo? Puta merda, Luan! - Ele negou e eu apertei o volante em minhas mãos.
—Não machismo, Douglas! Você não foi nem macho e nem homem para vir falar comigo que estava comendo a mulher que eu chamava de namorada.
—E você ia aceitar bem eu te falando que Victoria estava comigo? Se hoje, depois de tanto tempo você está na defensiva, não aceita as minhas desculpas pelos meus erros.
—Estou na defensiva por você ter audácia de vir perturbar minha mulher e vir pedir desculpas para mim. É muita cara de pau mesmo. - Neguei sem acreditar.
—Você a amava? - Olhei rapidamente para ele.
—Victoria me fez de gato e sapato no tempo em que namorávamos. Ela com certeza precisava de alguém que amasse ela de verdade.
—Essa não foi a pergunta.
—E o que isso interessa hoje em dia?
—Interessa se a sua escolha de hoje em dia afeta o seu afeto pela Victoria…
Aquilo me pegou de surpresa completamente. Mas eu não pude transparecer que estava surpreso com aquilo.
—Eu quis muito, por muito tempo que eu fosse o cara que Victoria amasse e que eu amasse ela. Mas eu sabia que nada faria diferença, se ela estivesse comigo, ia estar com outro também. E eu não seria o único.
—Então escolheu ficar com Pietra.
—Eu não a escolhi, a gente se ama. Ela me amou em segredo desde o primeiro momento que me viu.
—Você também a amou desde o momento em que viu ela?
—Não. Naquela época eu não amava ninguém, nem a mim mesmo. Eu apenas gostava da vida de solteiro que eu levava e duas garotas gêmeas na minha casa só me fez imaginar um monte de merdas. Mas com o tempo vi que uma era mas calma que a outra e descartei a possibilidade de qualquer envolvimento com as duas ao mesmo tempo. Eu nem sei porque estou te dizendo isso mas tudo bem. Vou continuar. - Respirei fundo —Com tempo ficando com Victoria foi bom maravilhoso, ficava com ela e mais outras. Ela começou a ditar regras para mim, para que fosse moldado um namoro. Até aí beleza, passei um tempo mas não aguentei e ela não ficava atrás, me traía como ninguém. Até um dia ver mais uma vez Pietra e querer mudar essa vida de solteiro, e daí em diante Pietra foi a pessoa que eu sempre quis na vida. Uma garota de responsabilidade, que me ama.
—Você ama ela?
—Amo!
O que era para ir para um bar, ficou com a gente andando por São Paulo sem rumo.
—Você não a ama. Você ama o que Victoria tinha, a beleza das duas eram as mesmas mas o de dentro só Vitoria tem.
—A malícia de ter me feito de corno não é? Cara, estou de saco cheio. Você vem me pedir desculpas mas vem colocar coisa na minha cabeça. Victoria querendo ou não foi meu pesadelo. Foi um passatempo que eu pude ter evitado. Eu gostaria tanto que aquela noite que eu conheci elas e a família delas fosse totalmente diferente. Que eu fosse conversar com a Bruna e a Pietra perto da piscina e que negasse a todo custo ir para o quarto com Victoria. Fico besta como eu poderia ter conhecido a mulher da minha vida melhor, para ficar com a errada.
—A vida ia ser perfeita demais. Talvez eu fosse conhecer Victoria como sua cunhada e não como sua namorada.
—É sem você me colocando chifres, sem contar que não ia sujar a nossa amizade.
—O destino é uma merda!
—Nos enrola e nos faz de bobo.
—Você gostava da Victoria não é?
—Gostei muito. Quando soube que ela estava viva, eu tive que esperar por seis meses para vir aqui e saber que você não amava ela.
—A custo de que? Você sabia disso.
—Não, eu não sabia. Soube que ela morreu na sua casa, você podia ter sido o assassino dela.
—Nunca faria isso, mesmo desejando que ela estivesse morta mesmo. Sou incapaz de matar uma mosca você sabe disso. - Respirei fundo.
—Você não a matou porque a casa estava com policiais. - Deu de ombro.
—Eu pedi para chamarem! Douglas você veio aqui para se desculpar ou para me importunar? Estou de saco cheio com esse assunto. Você sabe disso. Victoria foi o amor da sua vida mas bola pra frente. Você vai achar alguém que te ame.
—É eu sei. Minha terapeuta me diz isso sempre.
—Já tendo consultas com terapeuta? Eu também. Essa minha vida não está sendo fácil. - Suspirei.
—Estou, me faz bem por para fora. Quase surtei quando soube que na verdade Victoria estava viva e não foi me procurar. Talvez ela não gostasse de mim como eu gostava dela.
—Cara, eu te desejo toda sorte do mundo. Agora vamos beber porque seu mal é falta de ficar bêbado e uma boa trepada.
Estacionei o carro numa das vagas do bar que eu costumava beber, um lugar calmo porém muito bem frequentado.
Entramos e eu fiquei na água, estava dirigindo e com certeza hoje eu seria o amigo que ajuda o amigo bêbado. Douglas se animou rápido, logo que virou duas doses de tequila. Conversou com uma mulher e pegou o numero dela, mas não deram em nada, Douglas ficou bem ruim mesmo e eu tive que tirar dele o endereço do hotel que ele estava, foi um pouco difícil descobrir, mas quando soube, levei ele e deixei-o em seu quarto, em segurança.
Pietra me encarava séria, depois de me interromper várias vezes, contei como foi a minha noite e ela não se agradou de algumas respostas minhas e nem das insinuações de Douglas. Eu também não gostei mas estou com ela hoje e não trocaria isso por nada desse mundo.
—Vai aonde? - Perguntei quando ela levantou, pegando Liz e entrando para casa.
—Liz precisa almoçar. - Ela respondeu simples e entrou.
Tentei procurar o comentário do Douglas mas eram muitas e então desisti de achar.
Pietra não gostou nada quando eu disse que ia dar mais uma chance ao Douglas e não deixou de me contar isso.
—Vai querer almoçar também? - Ela apareceu na porta.
—Vou. - Dei de ombro.
Peguei as coisas que estavam espalhadas pelo chão e os brinquedos de Liz. Entrei colocando as coisas nos devidos lugares e fui até Liz que estava irritada com a roupa molhada.
Decidi trocar ela mas a banheira era ainda melhor, entrei com ela depois de cheia. Liz adorava brincar na água, ela parecia um peixinho sorridente.
—Nossa estava procurando por vocês. A comida já está no prato. - Ela me olhou séria, colocando a mão na cintura.
—Tá já vou. Vou secar ela.
—Me dar ela aqui. - Ela pegou a toalha e enrolou Liz quando eu a entreguei a nossa filha.
Sai da banheira, liberando a água. Esperei que Pietra se afastasse para tirar a cueca e me secar. Enrolei a toalha na cintura e fui atrás de uma roupa para me vestir.
Desci logo, estava com fome. Pietra já alimentava a nossa filha e comia ao mesmo tempo.
—Deixa que eu dou a ela, come ai com calma. - Peguei o prato da Liz e passei a dar a comida dela.
Liz terminou de comer e eu fui atrás do meu prato que Pietra preparou.
Dessa vez eu comi sozinho, Pietra levou Liz para se limpar, toda vez que comia era uma sujeira que ela fazia.
Como era a antevéspera do natal, começamos a nos programar, ajudei Pietra a arrumar as malas e deixar a casa organizada.
Pietra ainda estava chateada mas trocava algumas palavras comigo mas sabia que sua expressão me dizia outra coisa.
Fiz Liz dormir logo que ela mamou e eu fui atrás de Pietra que falava ao telefone, enquanto pegava uma muda de roupa dentro do closet.
—O que aconteceu?
—Eu esqueci completamente de ir a clínica, eles me ligaram agora e eu tenho que ir para lá.
—Hoje ainda?
—Sim. Amanhã vamos viajar e minha mãe vai ficar lá achando que eu não lembrei dela.
—Tudo bem. Eu vou com você. - Ela não disse nada e eu fui me arrumar.
Em meia hora, já estávamos no carro, Pietra colocava Liz na cadeirinha e a mesma chorava por ter acordado. Pietra distraiu ela com um desenho no celular e então fomos. O caminho todo foi silencioso, de vez em quando eu olhava Pietra através do espelho e dava para ver o quanto estava pensativa.
Quando chegamos, ela desceu com Liz nos braços e eu a peguei, deixando que Pietra falasse com a diretora da clínica. Elas conversaram durante meia hora, enquanto eu entretia Liz e brincava com ela.
Logo que Pietra saiu, fomos a visita, Verônica abraçou a filha, as duas se emocionaram bastante. Pietra lamentou não poder estar aqui na véspera e nem no natal. Liz foi para o colo de Pietra para ver a avó, Verônica estava melhor mas não cem por cento recuperada, ainda teria que ficar um bom tempo aqui. E toda vez que Pietra vinha aqui era tristeza e mais tristeza. Eu imaginava o quanto doía ver a própria mãe dentro de uma clínica a base de cuidados 24 horas por dia.
—A gente já vai, mãe. - Pietra levantou e eu peguei Liz de seu colo que dormia agora.
—Tá bom querida. Foi bom ver você, Luan. - Ela sorriu para mim. Ela nunca falou comigo e nem eu com ela e isso me pegou de surpresa.
—Foi bom ver a senhora também, dona Verônica. Um bom natal. - Sorri fechado, sai de perto delas e fui caminhando pelo jardim. Pietra me alcançou minutos depois, ela terminava de secar as lágrimas, abracei ela pelo ombro e seguimos em silêncio até o carro.
Coloquei Liz na cadeirinha, ela resmungou mas quando terminei de colocar o cinto ela ficou quietinha.
Me sentei ao lado de Pietra e fiz um carinho nela.
—É tão difícil deixar ela aqui.
—Ela vai ficar bem. - Peguei em sua mão e beijei a mesma.
Fomos o caminho inteiro em silêncio, passamos em um restaurante e jantamos. Já passava das oito da noite quando chegamos em casa. Pietra foi cuidar de Liz e eu fui alimentar os nossos cachorros e fechar a casa. Subi e fui direto para o quarto, tirei minha camisa e vi Pietra entrar, ela estava com o nariz vermelhinho, abracei ela, mesmo ela negando.
—Eu não quero te perder mas também não queria que você estivesse comigo porque gosta da Victoria.
—Você sabe que eu amo você. Eu te digo isso sempre para se lembrar que esse sentimento é vivo dentro de mim.
—Você ficou confuso quando o Douglas te questionou.
—Eu fiquei surpreso, Pietra. Mas meu amor por você é pela pessoa que você é. Eu amo cada detalhe seu, sou agradecido a Deus por tudo que tenho hoje. Por ter você. E se há alguma sombra de duvidas, eu não sei como te tirar elas. - Me afastei o suficiente para olhar em seu rosto. —Confia em mim, meu amor. E tenho certeza que nunca irá se arrepender.
Ela me abraçou mais forte, me pedindo desculpas por qualquer sombra de duvidas que ela teve durante esse dia. Perdoei, é claro. Uma das coisas que eu aprendi, é não dormir brigado com a pessoa que eu amo.
Tomei meu banho primeiro e depois foi a vez dela. Esperei que ela se deitasse, para que então eu dormisse, abraçado ao amor da minha vida.
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